"Ctésias? Escreveu um tratado sobre a Índia sem nunca ter pisado lá. ... Iâmbulo? Deslumbrou a todos contando o que encontrou no Grande Mar, num texto tão delicioso quanto absolutamente falso. ... E, assim como eles, muitos outros nos legaram o relato de suas 'viagens'. ... O grande mentor de toda essa palhaçada foi Ulisses, de Homero, ao entreter a corte de Alcínoo com ventos aprisionados, ciclopes, canibais,criaturas de muitas cabeças... E, claro, não serei o único a renunciar à liberdade ficcional da qual todos vêm se aproveitando... lá vou eu também. Rumo à falsidade. Falsidade, contudo muito mais honesta que as demais. Pois, ao menos, há nela a verdade: assumo estar mentindo."

Com este pretexto, Luciano de Samósata, no século II, por volta de 180 d.C., escreve uma ficção fantástica, descrevendo uma viagem que iniciou querendo descobrir onde acaba o mar navegando pelo Oceano Ocidental, mas passou por terras com seres incríveis, viajou até a Lua e participou de uma guerra desta contra o Sol, foi engolido e viveu um tempo dentro de uma baleia (Moby Dyck??), conviveu com heróis da mitologia (Aquiles, Teseu, ...), passou por um lugar parecido com um purgatório onde pecadores pagavam seus pecados (onde os maiores tormentos eram aplicados àqueles que, em vida, tinham mentido) e por uma Terra de Sonhos.

Esta obra é considerada precursora do gênero ficção científica, nunca tendo sido escrito antes desta história um texto tão surreal e fantástico, tendo Luciano influenciado vários escritores medievais e modernos.

A história é relativamente curta e simples, quando comparada a obras posteriores, mas vale pela originalidade e importância da obra.