A obsolescência programada dos nossos sentimentos é uma obra poderosa, inconformada, talvez incomodativa mesmo. E creio que o pretenda ser já que reflete sobre a condição de ser velho e se tornar obsoleto - uma espécie de material de descarte, uma peça fora de moda a entrar em desuso por força da idade. Ao confrontar o leitor com a sua decadência, o livro levanta questões prementes como o conforto e o amor numa idade avançada; preconceitos relativamente à idade produtiva vs idade fértil; abandono e independência; dinâmicas familiares e segundas oportunidades.
Apontando diretamente o dedo ao encómio à juventude, A obsolescência programada dos nossos sentimentos, desempenha um papel de mediador entre a realidade ideal e a realidade evidente, obrigando o leitor a pensar temas polémicos e difíceis, e a esquecer as imagens comerciais que se associam às relações amorosas. Aqui, as rugas, as pregas, os cabelos grisalhos, longe de representar a falência da juventude, ganham contornos como novos elementos de liberdade, tolerância e honestidade perante a finitude da vida.
Belíssimo.